Ouça no Silencio...

Ouça no Silencio...
Os sussuros da Escuridão

Anjo...

A noite pousa sobre seus ombros
O silêncio embriaga seus sonhos
Durma bem meu anjo
Preciso levar sua alma
Para que ela conheça os vales
Onde para sempre irá habitar

sábado, 7 de janeiro de 2012















O som de minhas botas apertando o cascalho acompanhava-me enfeitando meus passos hesitantes e retos penumbra à dentro.Estava àquela noite, onde o vento soprava por cima das tumbas assobiando minha chegada, e tocando meu peito como um aviso frio. Era noite de lua cheia, porém parecia adormecida, não havia estrelas, as nuvens imponentes e densas ocultavam a imensidão do céu, e as sombras que minha lanterna dissolvia aos poucos revelando as lápides emboloradas acortinava-me do mundo, do meu passado, e do terror que espreitava nas trevas temperadas pelo verde das árvores.


Era um encontro marcado, marquei com a morte alguns passos à frente, certifiquei-me no velho mapa com minha visão atrapalhada, de acordo com minha pesquisa sombria.. Estava lá, no lugar correto, era a encruzilhada central do Cemitério de Highgate coberta de lendas e historias londrinas escabrosas , cercada de uma negatividade densa que abateu-se sobre meu espírito, um clima pesado que devorava minha alma, com aquelas mandíbulas geladas a cada passo que dava. Avistei esticando-se contorcida aos céus como a mão de um condenado, a silhueta de uma árvore morta crescia no topo da colina além dos túmulos. Fiz cruz, apertei o cabo da pistola e tomei rumo pelo chão umedecido e íngreme até que me encontrava em uma clareira, cercado de névoa como grinalda, cheiro de mofo... Então parei. O vento calou-se, nenhuma nota noturna,mas sabia que não estava só, qualquer alma humana notaria um toque de veneno naquela noite assombrada, as nuvens pretas congeladas como a pintura de um pesadelo, apertavam minha fé contra o chão, sem poder olhar aos céus...Apertei meu crucifixo de prata, concentrei-me com até sentir seu cheiro no sereno, era minha arma, minha segurança.


Mal tive tempo de começar a pensar se a hora, a data era a correta, tentei contar os segundos à mente, mas a tensão daquele lugar vaporoso dissolvia minha contagem em veneno de pavor, pus força em criar a pior das expectativas, tendo conhecimento de que... a qualquer momento podia deparar-me com o inominável terror que vagava aos cemitérios por trás de toda aquela escuridão, que reduzia de suspense minha motivação de caça, senti-me a presa, em uma armadilha tenebrosa armada de obsessão trevas e paixão pelo desconhecido. Desconhecido até que ouvi... A seqüência de sons mais estarrecedora que Deus permite-me lembrar... primeiro um galho quebrou-se no meio da floresta, aquele som ecoando pelo vazio que o medo me cavara no peito arrepiou-me todo o corpo, senti uma mão gelada tocar minha nuca e ouvi um som estrondoso como o quebrar de uma gigante onda contra as rochas, era um uivo, um uivo de lobo , fantasmagórico, cercando-me por trás da escuridão, entrando pelos meus ouvidos e esbarrando violentamente em minha alma, destroçando-a num susto como uma taça de vidro.


A maldita névoa, parecia viva e sufocava minhas palavras junto com o medo crescente. Foi enorme a força que fiz para alguma palavra conseguir escapar de minha boca. O Latim enfureceu a fera, passou a rasgar-me com aquelas garras desencarnadas, frias como gelo, invisíveis, surgindo de todo lado.Aqueles urros mergulhavam minha alma em desespero, vindos do inferno, cavalgando o véu acinzentado da noite,engolindo-me como um vórtice de um pesadelo, pus mais força à oração, e aproveitei o recuo daquele demônio e pus-me a correr, sem rumo mergulhando na escuridão do maldito labirinto assombrado, enquanto o pai guiava-me por entre aquelas esquinas, por graça acertei o portão ainda vivo, subi manco no Steve, meu cavalo, e deitado em seu lombo dei o comando “ Domus!, Domus!”. Acredito ter sangrado até desmaiar, memórias vagas mostram-me rostos demoníacos nas árvores pelo caminho, palavras incompreensíveis como vindas do pesadelo mais negro. Ao chegar em casa desci com dificuldade, fiz cruz à porta e amanheci jogado na soleira com a roupa esfarrapada e coberto de sangue.


Fantasma de lobisomem...o que mais há de criar as noites... os sonhos, fiz mais uma vez meu trabalho, de volta aos livros, e ao próximo encontro.


Non nobis domine non nobis sed nomini tuo da gloriam.



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We Are The Fallen- Tear The World Down